No escuro havia apenas uma vela, e a chama que queimava era a da esperança, a da fé que quem a acendeu clamava por o seu Deus, ao pé de imagens que lhe confortavam e faziam crêr num amanhã melhor, que tudo de ruim iria passar e as coisas boas se multiplicariam como o cheiro de uma boa comida se espalha pela cozinha.
Enquanto do outro lado não havia nenhuma vela, talvez nem esperança, não havia crença num Deus, e sim no mestre Destino, não havia uma fé certeira e nem um esperar de um amanhã, havia incertezas e dúvidas sobre tudo.
Mas dos dois lados havia felicidade, havia sorrisos e lágrimas, a vela que iluminava a escuridão e a escuridão que iluminava os pensamentos, os olhos dos dois lados se fechavam para dormir do mesmo jeito, abriam ao acordar com a mesma sensação, nos dois lados havia paz, havia frio e calor. Não existe lado certo, existe o seu lado.

Sorte daqueles que amam e são amados, de quem tem um melhor amigo como namorado, ou que transforma seu namorado em seu melhor amigo. Chatos são os casais produzidos pelo sistema, que vestem roupas iguais a todo mundo, são perfeitos e artificiais, tem uma relação cheia de brigas causadas por ciúmes e sustentam sua relação em aparências, trata tudo como negócio e se importam mais com presentes do que com sentimentos.
Sorte de quem namora o seu oposto e se completa, de quem não precisa atualizar status em nenhuma rede social e nem precisa anunciar que está em uma relação, porque só quem precisa saber são os amigos. Sorte de quem sabe surpreender o outro e o maior presente do namoro é o sorriso de quem está ao seu lado, de quem curte o diferente e faz isso algo bom. Sorte mesmo é da gente, que fala idiotices, que não liga para o que os outros dizem, que somos melhores amigos, que somos namorados, estamos satisfeitos um com o outro e por isso nos aceitamos perfeitamente, cuidando sempre um do outro, não deixando nenhum desistir de sua vida, sendo bobos, mudando o outro para melhor, aceitando os defeitos que não se muda. Sorte mesmo é a minha, porque eu tenho a você.