Achei interessante a solidão.
Peguei um maço de cigarro, coloquei bebida quente em uma garrafa qualquer e saí na noite fria, sem ninguém.
The Clash tocava ao fundo. London Calling era o que acontecia na minha cabeça.
A cada passo um pensamento diferente sobre o projeto de idiota que sou. A não revolucionária que não vivo. A filha ingrata que seria ao me tornar eu mesma.
Eu sou culpada das coisas que sinto e do que quero viver.
Cada tragada de cigarro me dava uma visão diferente do que o mundo se tornava. Nada mudou, só a tecnologia.
Minha condição de pensante me trazia o fato de que muitos lutaram e foram esses que morreram, não os que estavam no poder.
Hitler ainda é mais humano que muito empresário por aí, pois ele tinha um ideal e o seguiu... Não foi por dinheiro, não foi por poder, foi por acreditar numa raça pura. Sei que Hitler matou muita gente. E os que morrem todos os dias é culpa de quem?
Me sentei no chão, encostada na parede de uma rua escura da solidão. Bebi todas as verdades que me esquentavam e me rasgavam a garganta.
Entendi que nada do que faço ou tenho é real. Só à mim: o meu pensamento, meu amor. Só aos meus bens: a bebida, o cigarro, a roupa que trago ao meu corpo.
Escola, Estado, amigos, tudo falsário. A vida é uma mentira.
Já tragava mais um cigarro, já rasgava mais a garganta com bebida...
Quando eu vi passar todas as pessoas na minha frente, quando eu vi os mortos que vivem em casas grandes e nada tem. Quando eu vi o mendigo ao meu lado chorar sem ter o que comer.
Quando eu vi prédios se erguerem em meses, eu também vi famílias serem destruídas.
O empregado demitido por jogo de interesse, o marido bem sucedido que bate na esposa, a filha que chora por não ser magra.
Quando eu vi toda a verdade me entregaram dinheiro para comprar meu silêncio.
Quando não me calei perdi minha única chance, o cigarro e a bebida acabaram. Me acabei.
Hipocrisia e sociologia com um tom de poesia.
ResponderExcluirAdorei, falou tudo e me deixou sem palavras.